LP Capim Verdão (Daudeth Bandeira e Benoni Conrado)

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domingo, 11 de janeiro de 2009

A CAPADURA DE DUDA E A SENTENÇA DO JUIZ

Daudeth Bandeira

Quando o cangacerismo
Rondava em nosso País,
No Estado de Sergipe
Um “digníssimo Juiz”
Deu uma sentença histórica.
Culturalmente: folclórica;
Juridicamente: infeliz.

Por tentativa de estupro,
Ou Atentado violento.
Do cabra (Manoel Duda)
À mulher de Xico Bento,
Mesmo sem se consumar,
Ele teve que passar
Por um grande sofrimento.

Foi em mil e oitocentos
No ano de trinta e três,
Doutor Manoel Fernandes,
O aplicador das leis,
Numa sentença “rombuda”
Condenou Manuel Duda
Pagar por algo que fez.

Em pleno mês de Sant´Ana,
Sem água em rio e represa!!
Por força das intempéries
Climáticas da Natureza;
Um grupo de bandoleiros,
Criminosos cangaceiros,
Havia na redondeza.

A mulher de Xico Bento
Ia de lata na mão,
Apanhar água na fonte,
No fundo dum ribeirão,
Quando, de dentro do mato,
Manoel Duda, como um gato,
Saía de supetão.

Imoralmente propunha
A razão do seu intento:
Queria fazer com ela
Do jeito de Xico Bento.
O que a lume não se traz.
Aquilo que a gente faz
Só depois do casamento.

Ela, recusando, disse:
Afaste-se para lá!!
Duda louco de vontade
Disse: mulher venha cá ....
“Abrafolou-se com ela,
E as encomendas dela
Deixou fora ao Deus dará.”

Mas seu grito de socorro
Soou alto na aldeia.
Aí Noberto Barbosa,
Junto a Nocreto Correia,
No flagrante apareceram,
O dito cujo prenderam
E levaram-no p´ra Cadeia.

Depois de três meses preso
Num sofrimento infeliz,
Sem qualquer relaxamento,
Provisória, nem sursis....
No auge do aperreio...
Em mês de outubro veio
A sentença do Juiz.

Sentença em itálica.

“Dizem as leises que duas
Testemunhas assistindo
O naufrágio do sucesso
Fazem prova.” E decidindo,
O Juiz, sobre a sentença,
Conforme diz a imprensa:
!Num linguajar doce e lindo!!

“Considero que o cabra
Manoel Duda agrediu
A mulher de Xico Bento, ...
Quando a ela dirigiu
Seus amores, seus queixumes;
Pois, a lei dos bons costumes,
Gravosamente infringiu.

“Para conxambrar com ela”
Tinha que lhe dominar....
E fazer as chumbregâncias,
Mas, ela sem aceitar.
Pois, casara na capela!
E só com o marido dela
Competia conxambrar!!

O cabra Manoel Duda
Fama de safado tinha,
“Nunca soube respeitar
Mulher casada, ou mocinha”
Quisera, há poucas semanas,
“Também fazer conxambranas
Com Quitéria e com Clarinha.”

Ataca moça donzela
E não pede nem segredo!
Se não houver uma coisa
Que esbarre esse torpedo;
Que atenue a perigança!
A manhã na vizinhança
Até aos homens fará medo!!

Por tudo que há nos autos,
Por força do meu ofício,
Condeno Manoel Duda,
Pelo grande malefício
Que fez à mulher honrada,
Com Xico Bento casada,
Passar por tal sacrifício.

Julgo a causa procedente
E Manoel Duda culpado;
À pena de capadura
Ele será condenado,
Como quem faz com bodête,
E deverá ser a macete
Que é pra ficar bem capado.

A execução da peça
Que acabo de concluí-la
Deve ser executada
Na Cadeia desta Vila
E a partir deste momento
A mulher de Xico Bento
Viverá calma e tranqüila.

A Sentença da Capadura

Quebro o visual protocolar do Arremate, para publicar este delicioso texto enviado por J Tavares, sobre sentença do juiz sergipano Manuel Fernandes dos Santos de 15 de outubro de 1833.
“No dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant’Ana quando a mulher de Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o cabra (Manuel Duda) que estava de tocaia em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ela se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão deixando as encomendas dela de fora e ao Deus dará.
Ele não conseguiu matrimônio por que ela gritou e veio em amparo dela Nocreto Correia e Norberto Barbosa que prenderam o cujo em flagrante./
Dizem as leises que duas testemunhas que assistiram a qualquer naufrágio do sucesso faz prova. Considero que o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para comxambrar com ella e fazer chumbregâncias, coisas que só o marido della competia comxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana; que o cabra Manoel Duda é um suplicante debochado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quis também fazer comxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzelas; que Manuel Duda é um sujeito perigoso e se não tiver uma cousa que atenue a pirigança, amanhan está metendo medo até nos homens.
Condeno o cabra Manuel Duda, pelo malefício que fez a mulher de Xico Bento, a ser capado, capadura que deverá ser feita a macete (!). A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa.

3 comentários:

  1. Maravilha de blog, uma junção de poesia com cultura, que só esse mestre da poesia e da nossa cultura sabe fazer.
    Nem mesmo sei como referenciar essa ilustre pessoa, uma enciclopédia do conhecimento, da cultura. como Compositor, Cantador, Poeta e sem deixar de mensiona-lhe como Jurista, pq sem dúvida ele é.
    Sou seu Fã.
    Professor, de todos que admira essa brilhante carreira mistica de musica e justiça.

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  2. Obrigado, grande maropo!
    Fico muito envaidecido com os seus elogios, e é com base nisso tudo que não pensamos em deixar de lado nossa cultura, nossa terra, nossa gente.
    Um forte abraço!!

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  3. Grande poeta, feliz fico eu em encontrar seu blog, dos melhores, sem duvidas. Ja coloqueium atalho no meu.
    Um forte abraço
    vavadaluz

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