LP Capim Verdão (Daudeth Bandeira e Benoni Conrado)

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A arte a abaixo e o poema são de autoria de Carlos Siqueira


Homenagem a Daudeth por Carlos Siqueira

Nascido na Paraíba
Esse belo cantador
Repentista, um artista
Poeta, também doutor
Daudeth Bandeira é
Um Homem de muita fé
Um Grande compositor

Amou cedo a cantoria
Esse grande menestrel
E foi em Quarenta e cinco
Que esse cabra veio do céu
A mãe é dona de Maria
Seu pai é o seu Tobias
Neto de seu Manoel

Ele nasceu em um sítio
Riacho da Boa vista
Em s. José das piranhas
Foi que nasceu o artista
Faz rima e faz o verso
Hoje aqui te confesso
È até um romancista

Já Disputou muitos prêmios
Em diversos festivais
Tem presença garantida
Nos eventos culturais
E é nessa geração
Que se preste atenção
Que grande talento traz.

Meu amigo um abraço
Que continue a labor
Mostrando a sua força
A garra o seu amor
Ficamos apreciando
E Junto com tu cantando
A rima do jeito que for.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A CAPADURA DE DUDA E A SENTENÇA DO JUIZ

Daudeth Bandeira

Quando o cangacerismo
Rondava em nosso País,
No Estado de Sergipe
Um “digníssimo Juiz”
Deu uma sentença histórica.
Culturalmente: folclórica;
Juridicamente: infeliz.

Por tentativa de estupro,
Ou Atentado violento.
Do cabra (Manoel Duda)
À mulher de Xico Bento,
Mesmo sem se consumar,
Ele teve que passar
Por um grande sofrimento.

Foi em mil e oitocentos
No ano de trinta e três,
Doutor Manoel Fernandes,
O aplicador das leis,
Numa sentença “rombuda”
Condenou Manuel Duda
Pagar por algo que fez.

Em pleno mês de Sant´Ana,
Sem água em rio e represa!!
Por força das intempéries
Climáticas da Natureza;
Um grupo de bandoleiros,
Criminosos cangaceiros,
Havia na redondeza.

A mulher de Xico Bento
Ia de lata na mão,
Apanhar água na fonte,
No fundo dum ribeirão,
Quando, de dentro do mato,
Manoel Duda, como um gato,
Saía de supetão.

Imoralmente propunha
A razão do seu intento:
Queria fazer com ela
Do jeito de Xico Bento.
O que a lume não se traz.
Aquilo que a gente faz
Só depois do casamento.

Ela, recusando, disse:
Afaste-se para lá!!
Duda louco de vontade
Disse: mulher venha cá ....
“Abrafolou-se com ela,
E as encomendas dela
Deixou fora ao Deus dará.”

Mas seu grito de socorro
Soou alto na aldeia.
Aí Noberto Barbosa,
Junto a Nocreto Correia,
No flagrante apareceram,
O dito cujo prenderam
E levaram-no p´ra Cadeia.

Depois de três meses preso
Num sofrimento infeliz,
Sem qualquer relaxamento,
Provisória, nem sursis....
No auge do aperreio...
Em mês de outubro veio
A sentença do Juiz.

Sentença em itálica.

“Dizem as leises que duas
Testemunhas assistindo
O naufrágio do sucesso
Fazem prova.” E decidindo,
O Juiz, sobre a sentença,
Conforme diz a imprensa:
!Num linguajar doce e lindo!!

“Considero que o cabra
Manoel Duda agrediu
A mulher de Xico Bento, ...
Quando a ela dirigiu
Seus amores, seus queixumes;
Pois, a lei dos bons costumes,
Gravosamente infringiu.

“Para conxambrar com ela”
Tinha que lhe dominar....
E fazer as chumbregâncias,
Mas, ela sem aceitar.
Pois, casara na capela!
E só com o marido dela
Competia conxambrar!!

O cabra Manoel Duda
Fama de safado tinha,
“Nunca soube respeitar
Mulher casada, ou mocinha”
Quisera, há poucas semanas,
“Também fazer conxambranas
Com Quitéria e com Clarinha.”

Ataca moça donzela
E não pede nem segredo!
Se não houver uma coisa
Que esbarre esse torpedo;
Que atenue a perigança!
A manhã na vizinhança
Até aos homens fará medo!!

Por tudo que há nos autos,
Por força do meu ofício,
Condeno Manoel Duda,
Pelo grande malefício
Que fez à mulher honrada,
Com Xico Bento casada,
Passar por tal sacrifício.

Julgo a causa procedente
E Manoel Duda culpado;
À pena de capadura
Ele será condenado,
Como quem faz com bodête,
E deverá ser a macete
Que é pra ficar bem capado.

A execução da peça
Que acabo de concluí-la
Deve ser executada
Na Cadeia desta Vila
E a partir deste momento
A mulher de Xico Bento
Viverá calma e tranqüila.

A Sentença da Capadura

Quebro o visual protocolar do Arremate, para publicar este delicioso texto enviado por J Tavares, sobre sentença do juiz sergipano Manuel Fernandes dos Santos de 15 de outubro de 1833.
“No dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant’Ana quando a mulher de Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o cabra (Manuel Duda) que estava de tocaia em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ela se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão deixando as encomendas dela de fora e ao Deus dará.
Ele não conseguiu matrimônio por que ela gritou e veio em amparo dela Nocreto Correia e Norberto Barbosa que prenderam o cujo em flagrante./
Dizem as leises que duas testemunhas que assistiram a qualquer naufrágio do sucesso faz prova. Considero que o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para comxambrar com ella e fazer chumbregâncias, coisas que só o marido della competia comxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana; que o cabra Manoel Duda é um suplicante debochado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quis também fazer comxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzelas; que Manuel Duda é um sujeito perigoso e se não tiver uma cousa que atenue a pirigança, amanhan está metendo medo até nos homens.
Condeno o cabra Manuel Duda, pelo malefício que fez a mulher de Xico Bento, a ser capado, capadura que deverá ser feita a macete (!). A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa.

sábado, 10 de janeiro de 2009

NORDESTINAÇÃO

Daudeth Bandeira

Maranhão, no nordeste do país,
É estado de credibilidade
Deve ter representatividade
Que enaltece o valor de São Luiz
Sua grande cidade Imperatriz
Se mantém numa ótima posição,
Bacabal, Capinzal, formosas são,
Grajaú, Dona Inês, Codó, Caxias,
A cidade que deu Gonçalves Dias
O maior menestrel do Maranhão.


Terezina cresceu, eu percebi,
E é de puro mister que ela exiba
O valor que existe em Parnaíba
Picos, Campo Maior, Piri-Piri.
O romântico sertão do Piauí
De baixios chapadas e alcantis,
Fez Domingos Fonseca ser feliz
Palmilhando as estradas do destino
O maior repentista nordestino
E um dos grandes poetas do país.


Fortaleza, do herói Dragão-do-mar
Tem o brilho dos olhos de Iracema
Seu passado se envolve no poema
De Raquel de Queiroz e Alencar.
Seu presente lhe deixa singular
Com a modernidade que lhe veste
Desde as praias: do sol e leste-oeste,
Seus verões, seus invernos, seus luares
Fazem-lhe capital dos verdes mares
O cartão de visitas do nordeste.


E Natal, de beleza natural,
Dunas, Praias, bacias, e como estudo
Casa e memorial Câmara Cascudo
São culturas naquela Capital.
Já possui uma base espacial
Que é chamada "barreira do inferno"
E por meio de método sempiterno,
Se constrói outro novo equipamento
e nas asas no nosso pensamento
E se alcança a mansão do pai eterno

Esmerada cidade João Pessoa
De Américo, de Alcides e de Zé Lins,
Entre as árvores frondosas dos jardins
Um poema de Augusto ainda ecoa
As robustas palmeiras da lagoa
Dão a ti elegância tropical
O seu busto da orla litoral
Se arrepia de amor, ouvindo o cântico
Entoado nas ondas do Atlântico
Sua grande paixão oriental.


E Recife, metrópole nordestina
Na cadência do seu capibaribe
Adormece escutando o beberibe
E acorda com gritos de usina,
Frevo, maracatu e colombina
Aparecem nos novos carnavais.
Está vivo nas páginas dos anais
Quem cantou o torrão pernambucano
Igualmente Olegário Mariano
Um Ascenso Ferreira e outros mais

Maceió, capital alagoana,
Sua Chã de Jaqueira é jóia rara,
Bebedouro, Farol e Pajuçara
Revelando a visão meridiana
Rodeada de praia, coco e cana
É um prato no meio da fartura.
E essa grande riqueza se mistura
Com as coisas que mais admiramos
Só o nome Graciliano Ramos
Encabeça um capítulo de cultura


Vem Sergipe com sua Aracaju
E cada uma cidade sergipana
São Cristóvão, Lagarto, Itabaiana,
Que é o chão do nelore e do zebu,
Mandioca, feijão, milho, caju
E laranjas, do chão fertilizante.
O Sergipe pra mim é importante
Que apesar de Estado pequenino
É um gigante com cara de menino
E um menino com forças de gigante

Salvador é o berço maternal
De Caíme, Caetano, Gal e Gil,
Não conheço outro povo no Brasil
Com o mesmo talento musical
Rui Barbosa foi nosso pedestal,
Castro Alves, poeta condoreiro
Jorge Amado é o grande noveleiro,
Sua fama não pára de crescer
Tem que ser nordestino, pra saber
O valor do nordeste brasileiro.

Coro (o nordeste é meu, o nordeste é teu)

QUANDO A VIOLA ESTERTORA


Sâmia Érika de Caldas Bandeira

Quando a cantoria for apenas uma palavra estranha, porém com definição misteriosa, onde curiosos do futuro tentarão desvendá-la, todos hão de sentir “na pele” o estertorar da última viola. O cantador de viola, cientista da primeira poesia cantada, repórter rural, pesquisador dos seus próprios pensamentos, construiu sozinho uma “avenida” infinita, assim como pedra-por-pedra pôs verso-por-verso, estrofe-por-estrofe e depois asfaltou essa estrada longa com o singular e exclusivo improviso verbal, o qual foi desencadeando repentes que se tornaram “ruas” de espetáculos, “bairros” de conhecimento, até fundar uma grande cidade chamada cultura nordestina. Como já podemos observar, o trabalho do cantador foi cansativo e hoje ele está exausto, não tem força nem recurso tecnológico para enfrentar a mídia, esse “avião de guerra” que insiste em bombardear essa cidade chamada cultura e persiste em implodir suas pioneiras construções, alegando estarem ultrapassadas, ou estar ocupando um território que não lhe pertence mais. Seria indispensável lançarmos uma importante lembrança à mídia em geral, que nada jamais seria possível de se edificar sem alicerce, e o solo da cultura está entranhado de riqueza, de dons que nem todos são dignos de possuí-los, da avenida principal às vias vicinais, os maiores terrenos lhe pertencem, embora os invasores construam casas e monumentos, condenados pelos arquitetos da poesia. E para quem é leigo no assunto, saiba que isto é raiz e como toda raiz, basta sol e água para nutri-la, pois, vamos regar a partir de agora a verdadeira cultura dos nossos filhos, netos e bisnetos. Tenho consciência que devemos ser abertos para o novo, afinal o tempo não retrocede, entretanto é dever de cada um, “respeitar o imutável, o perene dos séculos anteriores”, e até mesmo buscar nos recônditos o que ainda pode ser reciclado.

Em 01/11/2000

Sâmia Érika de Caldas Bandeira
Filha caçula do poeta cantador e escritor, Daudeth Bandeira.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009




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VALE DOS VENTOS

Daudeth Bandeira

Um resto de sol
Por detrás da serra
A sombra na terra
Fingindo um lençol
Um som de tarol
E outros instrumentos
Doídos lamentos
De músicas estranhas
Vinham das entranhas
Do VALE DOS VENTOS

Um cheiro de rosa
Com uma mistura
De fruta madura
Em tarde chuvosa
Uma rã nervosa
Dando saltos lentos
Nos galhos cinzentos
De um pé mamona
Parecendo a dona
Do VALE DOS VENTOS

Soa o passarinho
A canção dorida
Buscando dormida
No calor do ninho
Um redemoinho
De sons barulhentos
Dobrando os sarmentos
Com o seu açoite
Conduzindo a noite
Ao VALE DOS VENTOS

Estalos de vagens
Silvo de serpentes
Rangidos de dentes
De animais selvagens
Românticas imagens
De acasalamentos
Répteis peçonhentos
Vinham vagarosos
Dos morros lodosos
Ao VALE DOS VENTOS
Ia a noite em paz
Vinha a madrugada
Homenageada
Pelos sabiás
Os maracajás
Meios sonolentos
Desciam sedentos
Do alto do monte
Pra beber na fonte
Do VALE DOS VENTOS

Colibris voavam
De asas sedosas
Visitando as rosas
Que desabrochavam
Insetos deixavam
Seus acampamentos
Buscando alimentos
Por entre as cidreiras
Nas glaucas barreiras
Do VALE DOS VENTOS

Fiz este poema
Colhendo legume
Sentido o perfume
Da flor da jurema
Olhando um cinema
De encantamentos
Com uns elementos
De vidas estranhas
Filhos das entranhas
Do VALE DOS VENTOS.


BRASIL VIRGEM

Daudeth Bandeira
O Brasil antes de ser
Visto pelo estrangeiro
Só conhecia o mistério
Do nosso índio trigueiro
Era um pedaço de terra
Encalombado de serra
Entranhado de riqueza
Cercado por oceanos
Dormindo há milhões de anos
No colo da Natureza

Apesar de ocioso
Era livre e sossegado
Das irregularidades
Do homem civilizado
O índio tinha "de graça"
A água, a pesca e a caça
A sombra, o fruto e o mel
Não precisava salário
Não comprava vestuário
E nem pagava aluguel

Pedaço de terra fértil
Na última curva do globo
Habitada pelo índio
Pelo tigre e pelo lobo
Por letárgicos peçonhentos
Que faziam sonolentos
Suas costumeiras rondas
À margens dos grandes rios
Que exalavam nos baixios
O hálito puro das ondas

È mesmo que estar ouvindo
Um cacique dando um grito
E a carreta do vento
Passar veloz dando apito
As violentas borrascas
Dobrando as galhas verdascas
Dos angicais enfolhados
Pendurados nos barrancos
Tortos pelos solavancos
De alguns invernos pesados.

Os caboclos caçadores
Ocultos nos arvoredos
Arremedando animais
Com a boca e com os dedos
Uns subindo, outros descendo
As índias novas colhendo
Rosas vermelhas e roxas
Para as bebidas selvagens
E pintarem tatuagens
Na pele negra das coxas

Na tarde que o arco-íris
Laçava um lado do monte
A campina recebia
Um diadema na fronte
O trovão da um gemido
Como quem tinha mexido
No organismo da terra
As matas se contorciam
E os caitetus se escondiam
Nas axilas da serra.

O flamingo solitário
Dormia à beira do rio
O enho em cima das pedras
Tremendo o corpo de frio
A preguiça cochilando
A sucuri espreitando
A passagem do coelho
E a receosa vicunha
Deixando o rastro da unha
Preso no barro vermelho.

Um espetáculo bucólico
Dos artistas naturais
Exibido toda noite
No palco dos pantanais
O verde-lôdo dos campos
O farol dos pirilampos
E as luzes do céu azul
Refletiam no Atlântico
O retrato mais romântico
Da nossa América do Sul.